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Mostrando postagens de 2014

Fila para a vida

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Fazendo fila para fazer fila para pegar a senha para começar a viver a felicidade será felicidade quando por fim for carimbada e finalmente teremos visto para entrar no mundo

Deuses no caminho

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Saí para caminhar e alguns deuses surpreenderam-me no caminho. Não vale a pena mencioná-los, mas conversei com eles. Eles só me disseram Que esperasse.

Musa vermelha

Vermelho era o vestido quando rubriquei nos seus vermelhos lábios os meus, sedentos de méis. Rubro-negros os passos daquele tango e da própria noite. E foi essa noite que ela me pediu, mas eu, não contente, tomei sua vida toda. E, no clarescuro de um esconderijo do Planalto, descobri a seda de sua pele de açúcar. Saboreei sua doçura mergulhei nos segredos do seu corpo, e, na calma ambarina da madrugada, não sabia se era minha ou eu chumbara em sua magia. Foi parte do meu corpo nessas felizes danças; foi boneca viva dos meus lúbricos jogos; mudou minha senda e até meu endereço. Virou musa constante dos meus caprichos e desta dança mais do que infinita.

Perfume velho

Fantasma de olhos glaucos, insistes em ficar sob minha pele, em contaminar minha mente com teu ácido fluído. Agüenta o coração as gotas amargas do teu perfume velho, que amarga o sangue, e amarga até o ar. Já sei que não será mais a penumbra em que tuas pernas descansavam sobre aquela cama que já não está. Já não serão minhas mãos roedoras na crosta nívea de tua pele. Já não será tua calma sobre meu peito sincero. São Paulo, julho de 2003

Nosso jogo

Teu frágil corpo de magra gata procurava seu jogo no banco da praça. Teu jogo de menina imortal nos pátios do mundo. Teu jogo que é meu jogo em teu corpo de loiro pêssego. Teu jogo em meu corpo acordado por um verão portenho. Tuas pernas em meu regaço sobre o banco da praça. Nosso lábio em dança culminante de nosso ritual de encontro. Esgrimimos os olhares em luta passional. E floresce de teus peitos esse sonho de uma noite de verão. Buenos Aires, 1999

A poesia pulsa encarnada

A poesia pulsa encarnada, derrama-se no corpo, nada em lágrimas, voa em risos. Pinta a imagem de um mundo, lenços de noites e luas sublimes. Risca às navalhadas as mesas dos cafés. Canta como pássaros de guardanapos de papel. Alimenta-se de cada polegada do mundo. Não conhece leis nem deuses além dos de si mesma. Flagela-se, mata-se, nutre-se de feridas. Vive suas agonias, morre seus versos, nasce dos rios minados pelo devir. É paisagem viva do vale onde o homem alastra sua bagagem de sombras, seus amores podados. Afunda-se num café negro de asfalto desafiando a faca o gume de uma silhueta na fumaça. Guillermo Abraham São Paulo, julho de 2003

Não se afaste, morena

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Não se afaste, morena, indo para o mar onde o sal da vida apaga a doçura do amor. Talvez seja o meu temor de que as rosas mostrem sua semente salgada, ou seja só o fantasma do desencanto de não encontrar doce sabor nas pétalas. Mas, mesmo assim, não se afaste; deixe as ondas banharem seus pés sedentos de caminhos, e deixe que eu deite na areia e contemple suas costas de canela. E, quando tiver certeza de que você não é uma nuvem perfumada de espuma do mar, meus dedos, como peixes, procurarão as ondas do seu cabelo, e, se você me olhar, eu prometo que não atuarei nem farei nada para impressioná-la. Já não quererei sua impressão, mas a luz que não brota no sal das pedras. Não dançarei para você, porque quero que você dance comigo, e que suas mãos montem nas minhas como cavalos de mar. E já não pedirei que não se afaste, morena, mas que chegue perto para saborear suas pétalas, mesmo amargas ou salgadas, que eu beberei e